Seminário | Produção de conhecimentos imersos em práticas transformadoras José Manuel Mendes e Teresa Cunha Numa época em que a análise social e cultural se torna aparente através de conceitos marcados através de prefixos como, pós-colonial, pós-social, pós-confiança, pós-política, entre outros, que derivam de uma noção de fracasso ou impotência do conhecimento e epistemologias centrados no Ocidente, é necessário buscar paradigmas alternativos que possam fomentar uma verdadeira transformação social, justiça e emancipação. Muitas intelectuais e activistas feministas há muito que têm vindo a criticar a ideia de um conhecimento abstracto, que não vem nem está em nenhum lugar nem tempo propondo, ao invés, que todo o conhecimento é situado e deve ser modesto (Haraway, 1988; 1997). A questão principal é, pois, como estudar grupos oprimidos com base na igualdade e no respeito? A nossa visão epistemológica e metodológica é guiada por uma produção de conhecimento mais colectiva e participada que requer um esforço analítico mais profundo e complexo e, neste sentido, pode ser configurada numa artesania de práticas que busca a produção de saberes situados, conectados a contextos específicos e imersos em práticas transformadoras. A linguagem privilegiada destas metodologias é a narrativa. Contar estórias - que é compatível com expressões de escrita e oralidade, teatro, música, dança e artes visuais - cria um sentido imediato e concreto de co-presença. É uma co-presença que não pode ser alcançada pela linguagem conceptual (técnica, filosófica ou científica). A co-presença precede o significado. Co-produzir conhecimento é sempre aprender com a partir de epistemologias e metodologias não extractivistas e que se baseiam em relações de sujeita/o-sujeita/o e não sujeita/o-objecto. _________________________________________________________________ José Manuel Mendes é doutorado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde exerce as funções de Professor Associado com Agregação. Investigador do Centro de Estudos Sociais, tem trabalhado nas áreas do risco e da vulnerabilidade social, planeamento, políticas públicas e cidadania. É coordenador do Observatório do Risco - OSIRIS, sediado no Centro de Estudos Sociais, e Diretor da Revista Crítica de Ciências Sociais. Teresa Cunha é doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra. É investigadora sénior do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra onde ensina em vários Cursos de Doutoramento; os ciclos do Gender Workshop e das Oficinas das Epistemologias do Sul e o Programa de Investigação Epistemologias do Sul. É investigadora associada do CODESRIA e do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique. Em 2017, foi agraciada com a Ordem de Timor-Leste pelo Presidente da República Democrática de Timor-Leste. Os seus interesses de investigação são feminismos e pós-colonialismos; mulheres transição pós-bélica, paz e memórias; outras economias e economias feministas; direitos humanos. Tem publicados vários livros e artigos científicos em diversos países e línguas dos quais se destacam: Women InPower Women. Outras Economias criadas e lideradas por mulheres do sul não-imperial; Never Trust Sindarela. Feminismos, Pós-colonialismos, Moçambique e Timor-Leste; Ensaios pela Democracia. Justiça, dignidade e bem-viver; Elas no Sul e no Norte; Vozes das Mulheres de Timor; Timor-Leste: Crónica da Observação da Coragem; Feto Timor Nain Hitu - Sete Mulheres de Timor»; Andar Por Outros Caminhos e Raízes da ParticipAcção.