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Opinião
Nem tudo é o que parece ser na linguagem difundida pelos EUA
Boaventura de Sousa Santos
Carta Capital
2022-04-01

A luta contra a Rússia tem por ­objetivo enfraquecer a China

Efeitos. O Batalhão Azov é uma das tantas milícias neonazistas da Ucrânia. Derrubar Putin não vai significar por extensão uma vitória da vitória da democracia - Imagem: Presidência da Rússia e STR/NurPhoto/AFP

Na linguagem Internacionalista dos Estados Unidos, o mundo divide-se em dois: democracias (nós) e autocracias (eles). Ainda há poucos anos a divisão era entre democracias e ditaduras. É difícil conhecer as razões da mudança, mas é legítimo especular sobre elas. A minha especulação é que autocracia é um termo muito mais vago que, por isso, pode ser usado para considerar autocrata um governo democrático tido por hostil, mesmo que a hostilidade não derive das características do regime. Na cimeira da democracia realizada em dezembro de 2021, por iniciativa do presidente Joe Biden, não foram convidados, por exemplo, países como Argentina e Bolívia, que tinham atravessado recentemente vibrantes processos democráticos, mas são menos receptivos aos interesses econômicos e geoestratégicos dos Estados Unidos. Em contrapartida, foram convidadas três nações com democracias reconhecidamente problemáticas (o termo é flawed democracies), com corrupção endêmica e com abusos dos direitos humanos, mas com interesse estratégico para os norte-americanos: as Filipinas, por contrariar a influência da China, o Paquistão, pela sua relevância na luta contra o terrorismo, e a Ucrânia, pela sua resistência à incursão da Rússia. A guerra da Ucrânia veio dar um novo ímpeto à distinção e uma nova leitura. Agora, a Ucrânia representa a luta da democracia contra a autocracia da Rússia (que, no nível interno, deve estar a par da Ucrânia em termos de corrupção e de abusos de direitos humanos)....Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/opiniao/nem-tudo-e-o-que-parece-ser-na-linguagem-difundida-pelos-eua/



Conteúdo Original por Carta Capital