Bruno Sena Martins (BSM): É uma honra poder fazer-lhe esta entrevista por ocasião dos 40 anos da Revista Crítica de Ciências Sociais e também dos 40 anos do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Completou a licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra, nos anos 1960, com 17 valores, tendo sido convidado para lecionar nesse mesmo curso como assistente. Assim revisitado sem mais, o seu percurso profissional parecia estar definido no Direito. O que é que aconteceu para que hoje eu esteja a falar com um sociólogo que se notabilizou por tratar a relação entre justiça social e justiça cognitiva?
Boaventura de Sousa Santos (BSS): É uma pergunta muito boa. Realmente eu fiz a licenciatura em Direito, porque na altura não havia em Portugal outra área em que eu pudesse trabalhar – digamos assim – as questões sociais. Era o Direito, não havia Sociologia, não havia Ciências Sociais aqui em Coimbra, e eu fiz essa opção, talvez também por ter a ideia de que a Faculdade de Direito daria a ascensão social a alguém, como eu, que vinha da classe operária. O meu pai era chefe de cozinha de um restaurante de Coimbra, bastante famoso enquanto cozinheiro no Café Nicola e, por aquilo que me dizem, eu terei sido o primeiro filho da classe operária a entrar na Faculdade de Direito em Coimbra, o que foi de alguma maneira um escândalo – estávamos em 1957 e o escândalo era maior por eu ser também o melhor aluno da Faculdade, às vezes em competição com outro colega, nomeadamente o Artur Santos Silva, mais tarde Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. >Ler Mais
Conteúdo Original por Revista Crítica de Ciências Sociais, Número especial, 9-54