Sociólogo insigne, Boaventura de Sousa Santos presenteou-nos, já quase no fim de 2020, com uma obra imponente que versa sobre a recente pandemia de covid-19, mas aborda temáticas que vão muito além dela.
O livro está dividido em duas partes. Na primeira, o autor procura “dar uma visão tão panorâmica quanto possível da devastação causada pelo coronavírus, da história longa que o precedeu, das causas que determinaram o modo como escolheu as suas vítimas privilegiadas, das consequências que daí advieram, das actuações dos Estados e das comunidades frente a um perigo de dimensões imprevistas” (p. 17). Na segunda, Santos dispõe-se a “dar credibilidade à ideia de que o século XXI pode ser um começo de época, uma nova época assente na ideia de que a natureza não nos pertence, nós é que pertencemos à natureza. As implicações que daí decorrem são as linhas da longa transição para um novo modelo civilizacional pós-capitalista, pós-colonial e pós-patriarcal” (pp. 17-18). Exporei de seguida, sucintamente, algumas ideias e argumentos que me parecem centrais e notáveis e que interessam pela potencialidade que têm de influir e inspirar processos de participação, organização e mobilização política por um melhor mundo pós-pandemia.
O autor argumenta que a eclosão da pandemia do coronavírus SARS-CoV-2 marca, agora sim, o começo do século XXI, da mesma forma que o século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e o século XX pela Primeira Guerra Mundial e pela Revolução Russa. Santos antevê que esta crise pandémica irá condicionar a vida humana nas próximas décadas ao inscrever-se como um novo marcador da vida social na história.
Conteúdo Original por e-cadernos CES, 35, 2021
