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Fernando Perazzoli, Flávia Carlet

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Algumas pessoas compõem canções, outras pintam quadros ou contam estórias, e há ainda aquelas que fazem revoluções para mudar o mundo. No mar infindável das possibilidades de(...)
Fernando Perazzoli, Flávia Carlet

 

 

Subcomandante Marcos 

Isabella Gonçalves Miranda
Publicado em 2021-11-04

Memória e Sombra

Como falar da vida e da personalidade de alguém que reivindica uma memória coletiva e partilhada? Como narrar a vida de uma pessoa cujos antecedentes são investigados pelos serviços secretos do México? Como falar do brilho de Marcos sem projetar sombras sobre os homens, mulheres e crianças que, desde o Sul, do México e de diferentes partes do mundo, travam uma batalha contra o esquecimento?

 

Não será obviamente retirando o passamontañas que desvelamos quem Marcos é1. Esse mestre do mundo, com um grande senso de ironia, se construiu como uma personagem ambígua, que reinventou uma identidade dentro do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) de forma a se esquivar de qualquer definição inequívoca. O seu próprio nome, Marcos, é uma invenção.

 

Nos numerosos escritos de Marcos, que se localizam na fronteira entre a ficção, a realidade e o testemunho autobiográfico, os leitores são levados a um estado de confusão entre a seriedade do discurso e o escárnio, a natureza factual dos eventos narrados e a magia das metáforas. Dessa forma, Marcos provoca perplexidade, prendendo a atenção do público na figura do seu personagem e, ao mesmo tempo, deslocando as discussões sobre o zapatismo para as pautas que ele e a direção do EZLN elegem. Nesse sentido, o passamontañas, que simboliza a natureza performática da identidade do Subcomandante Marcos, ao mesmo tempo que cobre a face, coloca em destaque o discurso político de quem o utiliza.

 

Falar de Marcos, portanto, é falar da sua relação com o mundo que o rodeia, é falar de um projeto, de uma utopia coletiva que ele, com força e ternura, conseguiu traduzir e transmitir. Este mestre do mundo é subcomandante de um exército cujo objetivo é deixar de sê-lo; é um educador na arte de desaprender as palavras, para reaprendê-las enquanto possibilidade de encontro; é um poeta da rebeldia; é um personagem de fronteira, um tradutor entre o mundo indígena, a sociedade mexicana e os diversos movimentos e organizações sociais e políticas que, junto com o zapatismo, reivindicam um outro mundo que se constrói aqui e agora, no presente dos povos.

 

O Subcomandante Marcos nasce para o mundo há vinte anos, no primeiro dia de janeiro de 1994, durante o levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional em Chiapas, no Sudeste do México. Mas os ventos que trouxeram para essas terras o jovem professor, que mais tarde iria se reinventar como Marcos, começaram a soprar em 1983, quando seis pessoas chegaram a Chiapas para construir uma guerra de guerrilhas. Almejavam, então, libertar as/os trabalhadoras/es e camponesas/es da exploração do capital e fazer uma revolução. Acabaram se transformando em um exército, mas de outro tipo.

 

Durante a sua infância e juventude, conheceu um México governado pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), que ficou quase 60 anos no poder (1946 - 2000). O PRI institucionalizou as conquistas da Revolução Mexicana, protagonizada por Francisco Villa e Emiliano Zapata no início do século XX, dando sequência a um profundo processo de reforma agrária no país, com a estatização dos recursos naturais e o reconhecimento das terras comunais das comunidades indígenas e camponesas, os ejidos. Entretanto, desde 1968 o processo revolucionário já havia se esgotado e o país vivia grandes retrocessos em matéria de direitos e liberdade democrática. O rapaz que iria se transformar no Subcomandante Marcos, viveu em um período em que o discurso de esquerda chocava com a realidade de autoritarismo e repressão contra as lutas sociais. Formado essencialmente no contexto político e revolucionário urbano, este jovem pouco ou nada entendia da realidade dos povos indígenas e camponeses da América Latina pois, como o próprio Marcos explica, para a tradição marxista-leninista na qual havia se formado, os indígenas não existem.

 

Quando chegou a Chiapas não conhecia a terra onde pisava, nem as temporalidades e as geografias dos povos indígenas que habitavam a região, a maioria de origem Maia, das etnias tzotzil, tojolabal, tzeltal, chol, mam e zoque. Mesmo assim, de forma cautelosa e estratégica, chegava até essas comunidades dizendo que “a melhor medicina é a revolução”, dando aulas básicas de alfabetização e matemática, educação política e militar, além de consultas médicas. No início dos anos 90, o avanço das políticas neoliberais tornava as condições de vida cada vez mais insuportáveis para as comunidades indígenas e camponesas de todo o México. A crise econômica e as reformas energéticas, trabalhistas, fiscais e fundiárias, que preparavam o país para assinar os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos da América, levavam ao aumento da violência, da precarização do trabalho, do esbulho dos recursos naturais e das terras comunais. Em 1992, o artigo 27 da Constituição Mexicana foi reformado para possibilitar a privatização do ejido e manifestações eclodiram em todo o país. Paralelamente, em 1993, as forças armadas descobrem a existência de grupos armados guerrilheiros na Selva Lacandona. Começava a se fechar um cerco militar sobre o EZLN.

 

Na noite do dia 31 de Dezembro de 1994, quando o presidente Carlos Salinas de Gortari iria anunciar a entrada do México na zona do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), o levante militar do EZLN toma, de uma só vez, as cidades de San Cristobal de las Casas, Las Margaridas, Ocosingo, Altamirano, Chanal, Oxchuc e Huiztán.

 

O levante zapatista resgatou a esperança e a rebeldia em um momento que a correlação de forças era desfavorável e quando qualquer ato de radicalidade parecia atentar contra a razão. Pela novidade política que representava, causava perplexidade à sociedade mexicana, que começou a exigir o cessar fogo em Chiapas para o início de um processo de paz e escuta das demandas dos insurgentes.

 

Com as atenções de todo o país e de outras partes da América Latina voltadas para o conflito, Marcos é projetado pelo movimento como principal porta-voz do EZLN. É neste momento também, que ele rompe com a direção centralizada da organização política da qual fazia parte o EZLN, deixando de responder a diretivas externas, nomeando-se subcomandante de um exército indígena.

 

A visibilidade que a imagem do Subcomandante Marcos desperta serviu para projetar o discurso zapatista e manter a opinião pública distraída com aspetos simbólicos e espetaculares desse personagem, enquanto o movimento construía sua autonomia. Marcos se apresentava de um jeito irônico e irreverente de falar e se comportar. Carregava sempre um passamontañas, lenços rasgados, uma lanterna e um relógio em cada braço. A lanterna, ele explica, é porque nos meteram em um buraco onde não há luz. Os relógios simbolizam o descompasso entre duas temporalidades. O primeiro relógio, com qual chegou na Serra Lacandona, simboliza a temporalidade do Estado, da nação usurpada, com a qual os poderosos do México e do mundo contabilizam o seu tempo. O outro relógio, que ganhou no dia em que o EZLN decidiu levantar-se, é um “relógio de areia”, que marca a temporalidade do Exército Zapatista de Libertação Nacional. Quando as temporalidades coincidirem significa que acabou o tempo do zapatismo enquanto exército e que uma outra etapa, um outro relógio, um outro tempo há de surgir.

 

O Subcomandante Marcos é, certamente, uma subjetividade de fronteira, entre o mundo indígena e as classes médias urbanas do México. Ao invés de ordenar o mundo por meio do pensamento indígena ou do pensamento marxista-leninista, ele esboça o que Mignolo teoriza como uma “crítica pluritópica”, capaz de transitar entre o interior e o exterior da modernidade, sem negá-la completamente ou aceitá-la cegamente.

 

Marcos e os zapatistas têm contribuído para o mundo a partir de uma outra conceção de poder, de política e de globalização. O seu pensamento se expressa na prática política e em centenas de artigos, contos e livros publicados, de sua autoria, além de entrevistas, músicas, poesias e artigos de opinião de outras pessoas que dialogam com o seu pensamento.

 

Por sua apurada capacidade teórica e poética, também ficou conhecido nos meios intelectuais latino americanos. Foram muitos os pensadores com os quais Marcos dialogou: Alain Touraine, Eduardo Galeano, Carlos Monsivás, Elena Poniatowska, José Saramago, Ignacio Ramonet, Gabriel García Márquez, Immanuel Wallerstein, entre outros. Marcos introduziu um sentido de humor ao discurso tradicional da esquerda.

 

Muitos são os escritos do Subcomandante Marcos, entre os quais vários contos que estão destinados às crianças. Seus textos muitas vezes não recebem a sua assinatura, mas a rubrica de Don Durito de Lacandona, um besouro fumador de cachimbo do qual ele garante não ser mais do que um fiel escudeiro. Outro personagem comum em seus contos é o Viejo António, um ancião indígena que narra histórias e ensinamentos que revelam os aprendizados de Marcos com a cultura, a forma de ser e de lutar das diferentes etnias indígenas.

 

Através de seus escritos, Marcos se revela um educador-educando. Educador, por sua enorme capacidade de descortinar um mundo de ideias através de uma linguagem simples, humilde e poética. Educando, porque as palavras que escolhe para traduzir o mundo são descobertas na medida em que ele descobre e recria o Mundo, em coletivo, junto a seus companheiros e companheiras zapatistas.

 

Umas das preocupações centrais do Subcomandante Marcos dentro do zapatismo é com os processos de educação popular, como forma de ligar a teoria às sensibilidades e às práticas cotidianas de luta contra o capitalismo global. Com essa ideia em mente, os zapatistas organizam cursos onde não há professores, mas educandas/os; universidades que são certificadas pelo próprio povo, como a Unitierra; e vários encontros com ativistas de movimentos sociais de todo o mundo.

 

Por meio das palavras e da educação, os zapatistas conseguiram transformar a praxis cotidiana das comunidades camponesas e indígenas, trazer apoiantes para o EZLN, e construir uma outra relação política com movimentos e organizações sociais, baseada na troca de saberes, experiências, valores e ideais emancipatórios.

 

Para este mestre do mundo, a política e a filosofia política de cima dominam, hoje, grande parte do campo dos movimentos sociais e organizações políticas. A ideia segundo a qual se pode transformar a realidade sem lutar e sem mexer nos privilégios de que desfrutam os poderosos, e de que a única fonte de poder e opressão é a economia política, se tornaram absolutamente populares e tem produzido muito imobilismo e conformação.

 

Para Marcos, um pensamento que caminhe abaixo, conectado às realidades de opressão e exclusão, é aquele que não descola a teoria da prática e que sabe que as formas de opressão e de exclusão são tantas quanto serão as teorias necessárias para se pensar a emancipação social. A grande novidade do seu pensamento reside em uma conceção ampla do poder e da opressão que conjuga, simultaneamente, reivindicações e identidades de etnia e de classe, categorias que pouco se mesclavam no pensamento ocidental moderno. Isto significou o surgimento de uma praxis híbrida, que traduz no seu interior princípios do marxismo clássico, das correntes de esquerda latino-americana, como a teologia da libertação, e pensamentos indígenas e comunitários próprios daquela região.

 

Poder, por sua vez, não significa apenas dominação e opressão, mas também a força da organização coletiva e democrática do povo. O Subcomandante Marcos faz uma ácida crítica à política de cima, ou seja, às disputas que se dão no âmbito da democracia representativa, que ele considera uma farsa. Junto com os zapatistas se esforça, sobretudo, para construir novas instituições autônomas e populares desde baixo para transformar as relações de poder e o entendimento do que significa fazer a política. Isto não significa, contudo, que a disputa pela abertura e transformação dos espaços institucionais não seja um horizonte para o zapatismo. A Outra Campanha, lançada pelo EZLN em 2005, teve como principal objetivo reconstruir uma aliança ampla entre as esquerdas para fazer frente ao neoliberalismo e promover transformações constitucionais relevantes para todo o país e, principalmente, para o reconhecimento de direitos dos povos indígenas e camponeses.

 

Em seus comunicados, Marcos expressa que o zapatismo não é um movimento guerrilheiro clássico, pois não almeja tomar o poder, mas sim, transformá-lo. O EZLN embora ainda tenha uma estrutura militar, propõe deixar de ser um exército. Ao longo dos anos, a estrutura do ELZN foi-se transformando no sentido de converter-se em uma organização mais democrática e horizontal. As comunidades criaram Juntas de Bom Governo, Caracóis,2 sistemas de educação autônomos e instituições populares, que não aceitam verbas das políticas públicas do Estado mexicano. Sete princípios governam os zapatistas, junto a proposta de mandar obedecendo, que vale para as lideranças: servir, não servir a si mesmo; representar e não suplantar; construir e não destruir; obedecer e não comandar; propor e não impor, convencer ao invés de ganhar o outro, descer e não subir.

 

Em vez de construir uma oposição entre quadros políticos e a base, o zapatismo propõe uma nova forma de fazer e entender a política onde o poder popular não se pode delegar completamente. Dessa forma, fazem uma crítica à democracia representativa e a seus procedimentos, propondo uma nova conceção de democracia que existe para além do próprio Estado. Trata-se de uma proposta baseada na construção de relações de “autoridade partilhada” nos mais diferentes espaços da vida social, para que o poder não seja mais exercido por uma só classe ou gênero, mas por todos e em coletivo.

 

O zapatismo também inaugura uma nova forma de evocar o patriotismo. Pátria talvez seja uma das palavras mais proferidas pelo Subcomandante Marcos em seus discursos. Essa ideia, que serviu no século XX para justificar projetos coloniais que buscavam assimilar, homogeneizar, silenciar e excluir toda a diferença, reaparece no zapatismo como uma reivindicação do direito à democracia, à justiça, à dignidade e à diferença cultural, social e política dos povos indígenas, resultante da luta histórica contra a opressão e a exclusão.  Essa conceção se contrapõe ao projeto dominação das elites nacionais, grupos historicamente hegemônicos, cujo poder assenta na colonialidade, na violência e na expropriação das condições de dignidade das comunidades.

 

Marcos dialoga com vários autores críticos do colonialismo interno no México como Carlos Monsivás e Pablo Gonzáles Casanova. Em seus discursos e escritos expressa que a verdadeira Pátria mexicana não é composta por uma só raiz, uma só língua, um só povo ou uma só história, mas por vários projetos de mundo que precisam se escutar e aprender a construir juntos uma outra realidade para o país, onde as pessoas possam viver em dignidade. Os indígenas são, segundo Marcos, os esquecidos da Pátria, negados do seu direito à participação política, de lutar pela sua dignidade, ao reconhecimento de sua história. Para ele, um povo sem história não pode existir enquanto povo. Por isso, a luta zapatista é uma luta contra o esquecimento.

 

É preciso também entender o patriotismo que Marcos evoca dentro do contexto político de luta contra o imperialismo norte americano. Defender a Pátria é uma forma de se opor aos avanços dos processos de violência e apropriação da globalização neoliberal. A resistência, contudo, deve que transcender os próprios limites territoriais de um Estado-nação. Marcos afirma que estamos diante da quarta guerra mundial: a guerra do capitalismo a toda a humanidade. Para contrapô-la é necessário promover uma globalização da rebeldia, abaixo e à esquerda.

 

O projeto de mundo que Marcos defende não se apresenta como uma alternativa única e total para a sociedade, mas como uma proposta de aliança e solidariedade para a transformação social do México e do mundo. Nesse sentido, ele não reivindica uma posição de vanguarda para os zapatistas na construção do novo mundo, pois acredita que cada coletividade humana tem diferentes respostas sobre como será esse mundo, e que é nessa diversidade de propostas emancipatórias que a luta deve se fazer: “um mundo onde caibam todos os mundos”.

 

O pensamento do Subcomandante Marcos sobre o poder, pátria e globalização tem causado muitos debates na esquerda. Alguns consideram que se trata de uma ideologia pós-moderna e fragmentadora, quando o que se postula é a união na diversidade; outros acreditam que é uma posição demasiado ingênua. O certo é que esse pensamento, dito ingênuo e romântico, inspirou milhares de pessoas na América Latina e no mundo a construir uma nova forma de globalização desde baixo, onde a diversidade é celebrada como força e riqueza e não como fator de fragmentação.

 

A existência dessa personagem, porta-voz do zapatismo, se encerra em 25 de maio de 2014, quando o Subcomandante Marcos discursa pela última vez sobre a sua própria morte, na ocasião em que denunciava o assassinato por paramilitares de outro companheiro, o zapatista Galeano. As circunstâncias exatas do seu desaparecimento enquanto figura pública são incertas, porém se dão no contexto de transformações do zapatismo.

 

Desde 1983, quando fora fundado, o EZLN acumulou práticas e reflexões de autonomia e poder popular que se traduzem em princípios que apontavam para a necessidade de uma nova concepção de direção, que simbolizasse e expressasse melhor o sentido de “mandar obedecendo”. Nesse sentido, assume uma liderança indígena e camponesa de Chiapas como porta-voz do movimento, o Subcomandante Moisés.

 

O desaparecimento da figura pública do Subcomandante Marcos não significa o retrocesso ou mesmo o desaparecimento do levante zapatista, mas um passo adiante na luta, que é também contra o esquecimento e o silêncio ao qual, durante séculos, os indígenas mexicanos foram submetidos.

 


Referências

  • Caillabet, Carlos (1997), Chiapas, el choque de los vientos. Uruguai: del Quijote.
  • EZLN (2016), Cartas y comunicados del EZLN, acessado a 28/02/2016 em: http://palabra.ezln.org.mx/
  • Marcos, Subcomandante (2008), Nem o centro, nem a periferia. Sobre cores, calendários e geografias. Tradução de Danilo Ornelas Ribeiro. Porto Alegre: Deriva.
  • Marcos, Subcomandante (2002) Our world in our weapon. New York: Seven Story Press.
  • Marcos, Subcomandante (2008) Los Otros Cuentos. Relatos del Subcomandante Insurgente Marcos.Buenos Aires: La Red Chiapas.

 

Como citar

Miranda, Isabella Gonçalves (2019), "Subcomandante Marcos ", Mestras e Mestres do Mundo: Coragem e Sabedoria. Consultado a 04.11.24, em https://epistemologiasdosul.ces.uc.pt/mestrxs/?id=27696&pag=23918&id_lingua=1&entry=36115. ISBN: 978-989-8847-08-9