ALICE Interviews
ALICE_Interview_12 – Paul Singer – Aline Mendonça 03/04/2014
2014-07-07

Interview in Portuguese / Entrevista em Português Breve Resumo: Economista e professor universitário brasileiro nascido na Áustria. Paul Israel Singer é um grande exemplo de intelectual militante. Antes mesmo de sua carreira acadêmica, já havia um grande envolvimento político em sua trajetória: como migrante refugiado, como trabalhador militante do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Nesta ocasião, participou a histórica greve dos 300 mil, que paralisou a indústria paulistana por mais de um mês, em 1953. Trabalhando com o Professor Mário Wagner Vieira da Cunha, deu início a sua vida acadêmica em 1960. Em 1969, foi aposentado compulsoriamente em razão de suas atividades políticas. Seus feitos políticos foram muitos: um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), que se constituiu em importante núcleo da intelligentsia brasileira de oposição à ditadura militar; um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT); foi Secretário de Planejamento do município de São Paulo e atualmente é o Secretário Nacional de Economia Solidária. Marxista de formação, foi revisando suas leituras e incorporando a economia solidária como uma proposta de trabalho libertadora. È uma das principais referências da economia solidária na América Latina - tanto no campo acadêmico como no campo político. Perguntas 1) Esta é uma semana muito significativa para o Brasil. Há exatos 50 anos, vivemos o golpe de 64 e a ditadura foi instalada. Como o senhor avalia a atual e recente democracia brasileira? Quais os avanços e quais os limites desta democracia? 2) Uma das primeiras coisas que eu ouvi o senhor falar – no final dos anos de 1990, período de forte reestruturação produtiva no Brasil – é que as pessoas tinham muito mais condições de se contrapor a lógica capitalista se estivessem organizadas de forma coletiva do que individualmente. Naquela época, o senhor já defendia a ação direta dos trabalhadores (no campo político e econômico) como via de construir outra economia e outra sociedade. Alguns anos se passaram, o senhor ainda entende a economia solidária como uma ação direta capaz de contrapor e impactar o sistema capitalista? 3) Há uma vertente, essencialmente crítica, que trata a economia solidária às “ilusões” do socialismo utópico, identificando-se com as críticas de Marx a Proudhon (em Miséria da Filosofia) e de Rosa e Bernstein (Reforma ou revolução?); São muitas as tese que tratam a economia solidária apenas como inclusão produtiva, paliativo ao desemprego e mera reprodução capitalista. Como o senhor responde esta concepção? 4) A economia solidária no Brasil – embora muito antiga, se formos visitar as históricas experiências indígenas – começou a ter maior visibilidade no final da década de 1990 e ínicio dos anos 2000. O senhor foi um dos grandes propulsores deste processo – primeiro como assessor da ANTEAG (Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão), na sequência ajudando a construir as incubadoras universitárias (como intelectual militante que sempre foi) e depois como gestor público. Como o senhor avalia o desenvolvimento da economia solidária no Brasil de lá pra cá? 5) Uma das reflexões do Professor Boaventura trata o “Estado-como-novíssimo-movimento-social” que procura articular a lógica da reciprocidade própria do princípio da comunidade com a lógica da cidadania própria do princípio do Estado. Este “Estado-como-novíssimo-movimento-social” também se caracteriza pelo fato de algumas lideranças da sociedade civil, dos movimentos sociais também se tornarem gestores das políticas públicas. O senhor está nesta condição. Seu nome foi legitimado pelo movimento de economia solidária no Brasil para estar a frente da Secretaria Nacional de Economia Solidária. Como o senhor percebe esta condição? Como lidar com o fato de ser movimento e também ser Estado – sobretudo que nem sempre as aspirações do movimento são as mesmas do Estado e vice-versa? 6) Como uma referência da economia solidária e das outras economias no Brasil e no mundo, o senhor tem viajado bastante e visto muitas experiências. Recentemente o senhor participou do Encontro Internacional da RIPESS (Rede Intercontinetal de Promoção da Economia Social e Solidária) em Manila nas Filipinas. Como o senhor precebe o avanço destas outras economias no mundo? 7) Por fim, o senhor é um europeu, um austriaco nato que há muito se radicou no Brasil. Vivendo no Brasil o senhor aprendeu a fazer suas leituras de mundo e de sociedade a partir do sul. Com esta perpectiva, quais os aprendizados que a Europa, o Norte pode compreender do Sul?